Vaclav & Lena

Por três vezes eu alcancei este livro da prateleira da livraria que frequento, lembro-me de ficar curiosa sobre a estória, mas no final acabava optando por deixá-lo no seu canto da prateleira e levava outro livro no lugar. Por três vezes. Até que por fim, no dia do meu aniversário, resolvi trazer comigo da livraria Vaclav & Lena. E honestamente? Arrependo-me por das outras três vezes tê-lo, de certa forma, menosprezado. Vaclav & Lena é singelo, sensível e delicado.

A história me arrebatou! Os jovens protagonistas, Vaclav e Lena, são, definitivamente, mágicos. O caminho que Tanner os faz percorrer é surpreendente e envolvente. O modo que laça, desenlaça e interlaça novamente as vidas de Vaclav & Lena é agridoce; belo e sôfrego.

Com uma linguagem simples, mas não por menos linda, intensa e adequada, para apontar e contar a construção do enredo, sob a visão de duas crianças ímpares – Vaclav, o Magnífico e a Linda Lena – que possuem uma profunda e forte ligação (de coração, de bem querer); Tanner traz brilhantemente como composição do cenário da trama as dificuldades do tempo de meninice dos protagonistas, assim como as dificuldades sérias do mundo adulto, da imigração de famílias russas para solo americano, da fuga de sua pátria – na época, em caos – em busca de sobrevivência e de um futuro para suas crianças. Há aqui um leque de temáticas com implicâncias sérias, complexas e intensas sobre a infância dos pequenos jovens (principalmente, Lena) – crises familiares, abandonos, drogas, prostituição, solidão, (...). Assuntos, que a meu ver, enriquecem a história da maneira que são retratados, considerando seus reflexos para as vidas de Vaclav e Lena (e de Raisa e de Oleg e de Ekaterina e de Emily...). Considero ainda um feito incrível por parte de Tanner, a maneira como retrata esta nua e crua realidade, mas o faz com um encaixe em que os sonhos, as fantasias infantis de dois jovens que só querem viver a mágica, se faça presente e encante o leitor, com seus segredos, com suas travessuras e com seus mimimis.

Vaclav, o Menino-Mágico, o Magnífico, é encantador com seu trejeito esperto e cuidadoso e devoto à Lena. É bonito ver o jeito como ele nunca abandonou seu sonho, é bonito ainda mais se perder nas linhas da estória por seu fascínio pela mágica, e não importa se terceiros vão rir dele, ele acredita em si e em seu sonho. Mais bonito ainda é ver o quão ele se importa com Lena, não tendo relevâncias todas as pedras do caminho entre eles, ele continua se importando. Filho adorável, melhor amigo leal, garoto menino lindo. Vaclav é, sim, em minha opinião, Magnífico – tanto quanto mágico, como homem-menino.

Lena, Linda Lena! A personagem mais intensa para mim. Sinceramente, não consigo encontrar períodos que possam vir a fazer jus a Lena, porque como a própria autora descreve em certo trecho “Lena está funcionando sem manual completo de instruções”. Foram inúmeros os momentos na narrativa que despertaram em mim a vontade de pegar Lena no colo e ninar, cuidar e amar. É minha posição particular quanto à Lena, mas honestamente não consigo imaginar algum leitor que ao conhecê-la, ao entrar no universo de Lena, não sinta essa vontade e necessidade de cuidá-la, de amá-la. Lena possui em sua trajetória todas as adversidades possíveis – da timidez a ataques de fúria, do isolamento à popularidade, do desleixo ao cuidado, do cair em desespero e dores ao cair em contentamentos e amores; menina linda e repleta de buraquinhos na vida, Lena é, para mim, uma caricatura singular, que transborda paradoxos, que ama e não tem como não amá-la.

Preciso ainda comentar de Raisa e de Emi, dois paradoxos, duas mulheres belas, duas mães fantásticas, que ensinam, lutam e amam seus filhos bravamente, loucamente. Duas personagens calorosas, que dá vontade de abraçar e agradecer por Vaclav e Lena.

Sobre o desfecho da história: os últimos trechos da obra foram no mínimo fantásticos. Não me decepcionei com a revelação que se apresenta da verdade; as lacunas foram preenchidas, como deveriam ser, e foi... lindo. Vaclav, fazendo alusão ao Vaclav menino, contando a Lena como as coisas são... Lena, sendo Lena, e permitindo-se, enfim, viver o que se há para viver, tomando a sua verdade. E um terceiro par de olhos amorosos olhando por eles, como sempre foi. 

Por fim, quero acreditar que é possível se ter uma ligação duradoura e linda e forte e mágica como a que Vaclav & Lena possuem, independente de com quem seja, apenas que seja.

Sinopse: Vaclav e Lena parecem destinados um ao outro. Eles se encontram pela primeira vez aos 6 anos, numa aula de inglês para imigrantes em Brighton Beach, no Brooklyn. Vaclav é precoce e falante. Lena, com dificuldade no idioma, refugia-se na segurança de sua adoração por ela. Vaclav imagina a história deles se desenrolando como em um conto de fadas, ou como a ilusão perfeita de seu precioso Almanaque do Mágico. No entanto, uma das muitas verdades a serem descobertas nesta extraordinária obra de estreia de Haley Tanner é que “felizes para sempre” nunca é um desfecho garantido.

Um dia, Lena não vai à escola. Desaparece da vida de Vaclav e sua família como num cruel truque de mágica. Durante os sete anos seguintes, Vaclav deseja boa noite a Lena todos os dias, imaginando se ela faz o mesmo onde quer que esteja. No dia do aniversário de 17 anos de Lena, ele finalmente descobre o que aconteceu.

Haley Tanner tem a originalidade e a verve de uma contadora de história nata, e também a ousadia de imaginar um mundo em que o amor pode superar as circunstâncias mais difíceis. Em Vaclav & Lena, a autora dá vida a dois inesquecíveis jovens protagonistas que evocam a alegria, a perplexidade e a paixão de se ter uma profunda e duradoura ligação com outra pessoa.

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